Futuro dos biocombustíveis ainda é promissor

terça-feira, 3 de novembro de 2009
segunda, 25 maio 2009 . Herald Tribune . Há apenas um ano, os biocombustíveis eram culpados pelo aumento nos preços de alimentos essenciais como milho, trigo, açúcar e óleos vegetais. Manifestações violentas em mais de 30 países e alertas de grupos ambientais, governos, das Nações Unidas e do Banco Mundial desencadearam um debate global quanto ao apoio público para a expansão da indústria de biocombustível.

Depois, conforme o crédito secou e a recessão global entrou em cena, a indústria em crescimento implodiu - o que pelo menos silenciou os protestos. Os preços dos comodities caíram ainda mais rápido do que o do petróleo cru conforme a demanda global por combustível evaporou. A explosão da bolha do combustível deixou dezenas de fábricas paradas e obrigou alguns dos maiores nomes do setor a pedirem falência.

Entre eles, a maior fábrica de etanol da Espanha parou com a produção em setembro de 2007, pouco menos de um ano depois de começar suas operações. A refinaria de US$ 200 milhões - que pertence a uma parceria formada por uma unidade da Abengoa, companhia espanhola que é uma das maiores produtoras de biocombustível do mundo, e pela companhia de processamento de alimentos Ebro Puleva - ficou parada por 11 meses em meio às plantações de cereais das planícies próximas a Salamanca, a cerca de 220 quilômetros a noroeste de Madri.

A produção foi retomada em agosto de 2008, quando os preços dos cereais caíram depois de atingirem seu recorde e o governo espanhol determinou normas compulsórias de mistura para os combustíveis - uma lei que entrou em vigor no começo deste ano.

Apesar dos obstáculos do ano passado, Javier Salgado, presidente da operadora da fábrica, Abengoa Energia, está otimista em relação ao futuro.

"Temos a sorte de trabalhar num mercado europeu regulamentado", disse Salgado. "Estamos em crise, é difícil; estamos controlando os custos; mas as perspectivas são de crescimento. Imagino que em dez anos o mercado de etanol será cinco vezes maior na Europa, quatro vezes no Brasil e três vezes nos EUA".

A Abengoa, maior produtora de etanol na Europa - e uma estreante no mercado do biodiesel - tem uma capacidade de produção anual de combustível de 1,9 bilhão de litros, e deve aumentá-la em mais 1,15 bilhão. Ela está construindo a maior fábrica de etanol da Europa continental, na Holanda. A União Europeia estabeleceu para 2020 a meta de suprir 10% de sua demanda de combustível para os transportes com fontes renováveis, o que inclui os biocombustíveis.

Analistas da indústria e produtores de biocombustíveis esperam que as políticas governamentais continuem apoiando a expansão dos biocombustíveis. Apesar disso, os preços das commodities devem ficar mais baixos a maior parte deste ano, por causa da crise econômica; mas no ano que vem, se a demanda de energia global se recuperar junto com a economia, pode haver uma repetição da alta dos preços dos alimentos que aconteceu no ano passado.

Menos de 5% da produção mundial de cereais será destina à produção de biocombustível nesta temporada, de acordo com a Organização de Alimentação e Agricultura das ONU. Mas essa parcela deve aumentar ao longo do tempo, pelo menos até que o mundo inteiro tenha tecnologia para processar materiais alternativos, o que é uma perspectiva distante.

O crescimento do uso do biocombustível, junto com o aumento do consume humano e animal, continuará a pressionar o fornecimento mundial de alimentos, principalmente porque a produção de cereais não consegue acompanhar a demanda. "Não se investe dinheiro suficiente na agricultura. As tendências de longo prazo são funestas", disse Francisco Blanch, analista-chefe de commodities para o Bank of America-Merrill Lynch, em Londres. "Estamos nos preparando para outro grande golpe".

"Os preços são determinados por mudanças mínimas no fornecimento; os biocombustíveis continuam mordendo a produção agrícola total, e há um risco de uma nova alta nos preços dentro de no máximo um ano. Tudo o que precisamos é uma safra ruim."

A razão entre os estoques mundiais de grãos e o consumo - medida que revela a quantidade suplementar de alimentos - deve continuar nos níveis mais baixos da história por todo o ano de 2010 e nos anos seguintes, com cerca da metade do valor que tinha no começo do século, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA e da ONU.

A demanda de alimentos nessa década - gerada pelo crescimento populacional e pelo aumento do consumo de proteína em países emergentes como a China e a Índia - ultrapassou o aumento da produção. E as reservas estratégicas de cereais feitas nos anos anteriores desapareceram em grande parte. Como consequência, até 2015, os preços das safras devem continuar bem acima dos níveis de 2004, de acordo com um relatório do Banco Mundial.

E apesar de a desaceleração econômica atual ter reduzido o consumo, ela também deve afetar a produção de grãos e sementes oleaginosas no ano que vem à medida que os fazendeiros sem dinheiro plantam menos e reduzem o uso de fertilizantes.

As safras recordes do ano passado e deste ano, que coincidiram com a queda na demanda, fortaleceram a oferta atual e compensarão a queda na produção esperada para a temporada que termina em 2010. Mas a recuperação econômica eventualmente pressionará mais os estoques.

Manifestando preocupação com a segurança alimentar global, ministros da agricultura das nações industrializadas do G8 concordaram no mês passado em estudar a possibilidade de manter estoques comuns de alimentos.

Frizando o fornecimento escasso e o equilíbrio da demanda, as nações do G8 também prometeram monitorar os mercados de commodities para evitar a volatilidade dos preços do ano passado.

Ainda sofrendo com a recessão, os rendimentos dos biocombustíveis, que entraram em colapso por volta da metade de 2008, devem continuar fracos durante a maior parte de 2009, em parte por causa dos preços baixos do petróleo bruto. Com os preços atuais das safras, as refinarias de biocombustíveis precisariam que o petróleo se estabilize em US$ 60 por barril para não ter prejuízo sem ajuda do governo, de acordo com o relatório do Bank of America-Merrill Lynch.

Na Espanha, com o preço atual do petróleo, a maioria das fábricas de biocombustível está parada. Nos Estados Unidos, a VeraSun Energy, segunda maior produtora de etanol depois da Archer Daniels Midland, entrou com pedido de falência no ano passado. No Brasil, onde a política governamental deu um grande incentivo aos biocombustíveis, com uma taxa de mistura chegando próxima dos 25%, investimentos já planejados para aumentar a capacidade estão sendo cortados.

Na Alemanha, a redução dos subsídios e o aumento de impostos sobre os biocombustíveis durante os últimos três anos também pesaram no bolso de centenas de pequenas refinarias.

Em março, o Bank of America reduziu sua previsão quanto à produção de biocombustíveis este ano em 1,9 milhão de barris por dia. A estimativa anterior era de 2,1 milhões de barris.

As refinarias irão operar com menos de 50% da capacidade na Itália e com menos de 60% na Alemanha, enquanto as fábricas de etanol dos EUA e do Brasil funcionarão com 80% de sua capacidade, disse o relatório.

Ainda assim, os gerentes da Abengoa dizem que uma virada é apenas questão de tempo, graças ao apoio oficial.

Os biocombustíveis respondem por 2,2% do fornecimento global de combustíveis e por cerca de metade do crescimento em produção de combustíveis fora da Organização de Países Exportadores de Petróleo. A produção de combustível renovável dos EUA deve quase triplicar até 2020 para cumprir com as metas de mistura. Até 2050, de acordo com projeções da Agência Internacional de Energia em Paris, 26% do combustível para o transporte mundial será renovável.

O relatório do Bank of America-Merrill Lynch espera que as metas governamentais de mistura para 2010 continuem apoiando o crescimento:
ele observa que o governo do presidente Barack Obama e o Congresso controlado pelo Partido Democrata apóiam o aumento dos níveis de mistura de etanol acima dos atuais 10%.

Na fábrica de Salamanca, há um otimismo cauteloso. A legislação espanhola exige que 3,4% do combustível total do país este ano venha dos biocombustíveis, aumentando este número para 5,83% em 2010. Uma vez que a meta de 2009 já foi atingida com folga, a recuperação total não é esperada até o ano que vem. A maior parte da demanda nos últimos dois anos foi atingida com a importação de biocombustível mais barato dos EUA - mas o comércio foi agora restrito por medidas antidumping da União Europeia

A preocupação pública com o suprimento e o custo dos alimentos é compartilhada pelos produtores de biocombustíveis. Os preços altos dos cereais diminuem seus lucros, por um lado, e a capacidade de usar alimento como matéria-prima é restrita pelos mesmos fatores que afetam a produção agrícola.

"Produzir combustíveis de fontes de primeira geração tem limitações naturais", disse Salgado, referindo-se ao crescimento da produção global de alimentos. A Abengoa, assim como muitas companhias do setor, afirmou que os ataques do ano passado foram injustos, culpando os competidores da indústria do petróleo por inflamarem o debate. A Abengoa defende seu histórico e aponta para sua decisão estratégica de desenvolver combustíveis de segunda e terceira gerações.

Fábricas de biocombustíveis de segunda geração em escala industrial que usam principalmente a celulose, como palha de milho e feno, não devem entrar em funcionamento até pelo menos 2012, enquanto a tecnologia de terceira geração, que usa algas, não deve se tornar comercialmente viável até 2015. Mas elas certamente são o futuro.

A fábrica de Salamanca apenas começou a operar a primeira unidade modelo do mundo a usar tecnologia de segunda geração para processar o feno. A Abengoa já tem uma pequena fábrica nos Estados Unidos e planeja começar a construir a primeira fábrica de etanol de segunda geração e escala industrial no começo do ano que vem em Hugoton, Kansas. Os Estados Unidos destinaram US$ 800 milhões para a pesquisa em biocombustíveis de segunda geração. A Abengoa espera conseguir parte desse dinheiro público para sua fábrica de US$ 400 milhões no Kansas.

"Sabemos que não é o melhor dos momentos, mas também sabemos sobre o futuro", disse o diretor da fábrica da Abengoa em Salamanca, Gonzalo Curiel. "Faz muita diferença trabalhar numa indústria que está nascendo, e não em uma que está de saída."

fonte:biodieselbr.com

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